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Droga escondida em lulas, bananas e ananás: Traficante explica como rede usava portos portugueses para entrada de cocaína na Europa

Um novo vídeo mostra como funcionava, em detalhe, uma das mais sofisticadas redes de tráfico de droga que operava a partir de Portugal. No centro do esquema está Luís Mayer, apontado pelo Ministério Público como o principal responsável nacional de uma organização criminosa que fazia entrar centenas de quilos de cocaína oriunda da América do Sul, com destino final a vários países europeus. As imagens foram reveladas pela CNN Portugal.

O vídeo agora divulgado junta-se a outras provas recolhidas pelas autoridades e mostra Mayer a explicar, passo a passo, como operava o circuito logístico da droga. O porto de Lisboa surgia como ponto-chave, sendo o local de entrada da cocaína, muitas vezes camuflada em contentores carregados de alimentos perecíveis, como bananas, ananás ou até lulas congeladas. “Até que dizem ‘nós vamos arranjar uma solução diferente, nós vamos mandar isto em calamares, em lulas’. E eu fiz o costume… ‘olhe isto já não vai vir em ananás e em bananas vai vir em calamares’”, confessa Mayer nas imagens.

O esquema não se limitava apenas à introdução da droga. A operação beneficiava de cumplicidades ao mais alto nível. Dois inspetores da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) são acusados de terem recebido subornos no valor de 700 mil euros para garantir a passagem segura de, pelo menos, 1.300 quilos de cocaína. Segundo o próprio Mayer, os agentes chegaram a encontrar-se com ele em sua casa, onde selaram o acordo corrupto. Um funcionário do porto de Lisboa, fiel a estes inspetores, era o responsável por “fechar os olhos” à chegada dos contentores suspeitos.

A cocaína, escondida nas caixas de alimentos, acabava por sair do porto e seguir para armazéns escolhidos pela organização. Num dos episódios descritos pela investigação, Mayer conduziu três cúmplices até à localidade de Usseira, em Óbidos, onde era esperada uma remessa de cocaína dissimulada em embalagens de lulas congeladas. O que os traficantes não sabiam era que, nesse momento, estavam a ser vigiados de perto pela Polícia Judiciária, que acompanhava a operação ao pormenor.

Luís Mayer foi detido em fevereiro de 2024, após ter sido apanhado em flagrante numa operação relacionada com o transporte de cocaína vinda do Equador. A sua colaboração com as autoridades foi inesperada: entregou vários vídeos comprometedores onde se vêem, entre outras provas, os encontros com os inspetores tributários e a logística interna da rede. De acordo com a investigação, foram também identificados outros sete elementos ligados à organização, entre eles antigos colegas de escola de Mayer.

SAPO.PT