Investigadores descobrem que o que antes se acreditava ser um deserto biológico tem, na verdade, diversidade equivalente ao resto do planeta
Investigadores chineses divulgaram uma série de descobertas inéditas sobre os mecanismos de sobrevivência dos organismos vivos na Fossa das Marianas, a região mais profunda dos oceanos da Terra.
Os resultados foram publicados esta sexta-feira (6) em três artigos na revista Cell, segundo informou a agência chinesa Xinhua.
Os dados foram obtidos a partir de expedições com o submersível tripulado chinês Fendouzhe (Striver), que atingiu o ponto mais profundo da Fossa a 10 de novembro de 2020, a cerca de 11 mil metros de profundidade.
No local, onde a pressão ultrapassa as 1.100 atmosferas e a escuridão é constante, os cientistas identificaram uma biodiversidade impressionante — até então considerada improvável num ambiente tão hostil.
Entre as principais revelações está o mapeamento genético de mais de 7.500 genomas representativos de microrganismos procariontes, dos quais cerca de 90% são espécies desconhecidas até à data.
A diversidade genética encontrada é equivalente à de todos os restantes microrganismos marinhos já conhecidos no planeta.
A investigação destacou ainda as adaptações extremas de animais invertebrados da região. Um dos achados mais impressionantes foi o tamanho do genoma de um anfípode, um pequeno crustáceo semelhante a um camarão, que ultrapassa em mais de quatro vezes o tamanho do genoma humano.
Além disso, a análise de 11 espécies de peixes que habitam a zona abissal revelou que a presença acumulada de determinados ácidos gordos nos seus organismos contribui para a sua capacidade de suportar pressões elevadíssimas. Estes compostos lipídicos parecem reforçar a integridade das membranas celulares, permitindo o funcionamento dos sistemas biológicos mesmo em condições extremas.
De acordo com os cientistas, estes organismos podem ter aplicações futuras na biotecnologia e na indústria farmacêutica, especialmente devido à sua capacidade de produzir enzimas e substâncias bioativas resistentes a ambientes extremos.
As descobertas reforçam a posição da China na vanguarda da exploração científica de grandes profundidades oceânicas, e abrem caminho a novos estudos sobre a origem da vida e as suas fronteiras adaptativas.
“A Fossa das Marianas já foi considerada um deserto biológico. Hoje, sabemos que é um dos mais ricos laboratórios naturais da Terra”, destacou a equipa de investigação em comunicado de imprensa.
Revista Forum