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ATAQUE À SOBERANIA VÍDEO – Trump quer minerais críticos do Brasil e Lula reage: “Aqui ninguém põe a mão”

Encarregado de negócios da Embaixada dos EUA relatou interesse do governo norte-americano nos metais estratégicos brasileiros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom nesta quinta-feira (24) ao reagir ao interesse explícito do governo dos Estados Unidos nos minerais críticos do Brasil. A resposta veio após o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, informar em reunião com representantes do setor de mineração que Washington está de olho nos recursos estratégicos brasileiros, como o lítio, o nióbio, o grafite e as terras raras — insumos fundamentais para a transição energética e para a indústria de defesa.

Durante cerimônia em Minas Novas (MG), Lula defendeu com veemência a soberania nacional e mandou um recado direto à ao presidente dos EUA Donald Trump.

“Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro. A única coisa que eu peço ao governo americano é que respeite o povo brasileiro como eu respeito o povo americano”.

Tarifaço de Trump aumenta suspeitas de pressão

A declaração ocorre em meio a uma escalada de tensão nas relações comerciais com os EUA, alimentada pela decisão do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A revelação explícita de que Trump quer os minerais críticos brasileiros aumentam as suspeitas  de que o tarifaço seja parte de uma estratégia de pressão para que o Brasil ceda às demandas norte-americanas sobre os metais estratégicos e terras raras.

Apesar de Escobar não ter feito uma conexão direta entre o interesse nos minérios e o pacote tarifário durante a reunião com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o momento da conversa – a menos de dez dias da entrada em vigor das novas taxas – levanta suspeitas. Representantes do setor avaliam que os minerais, especialmente as terras raras, podem acabar entrando como moeda de troca nas negociações.

Para o presidente do Ibram, Raul Jungmann, a tentativa de aproximação por meio do setor privado é inapropriada. Ele ressaltou que “essa é uma pauta do governo”, lembrando que, segundo a Constituição brasileira, os recursos minerais pertencem à União.

“Deixamos claro aos diplomatas que a negociação deve ser feita com o governo federal”, afirmou.

Brasil aposta em agregar valor e proteger soberania

Trump já vem adotando ações semelhantes em outros países. Na Ucrânia, exigiu terras raras em troca de apoio militar, e tenta costurar com a China um pacto envolvendo minerais em troca da suspensão de tarifas comerciais. Agora, volta seus olhos ao Brasil, que detém a segunda maior reserva mundial de terras raras, atrás apenas da China.

Atualmente, cerca de 70% das exportações minerais brasileiras vão para o mercado chinês, o que coloca o Brasil como peça-chave na disputa geopolítica por autonomia sobre cadeias produtivas estratégicas. Para os EUA, reduzir a dependência de Pequim é uma prioridade – mas para isso, seria necessário que o Brasil flexibilizasse sua política mineral, algo que o governo Lula não parece disposto a fazer.

Além de responder com firmeza, o presidente tem apostado em agregar valor à produção nacional. O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) afirmou que o novo plano brasileiro para minerais críticos, a ser lançado ainda neste semestre, terá como eixo a industrialização e o refino dentro do país, com foco no desenvolvimento tecnológico e na proteção dos interesses nacionais.

O Instituto Brasileiro de Mineração também criticou duramente a medida tarifária de Trump. Em nota, classificou a decisão como “unilateral”, “sem embasamento técnico” e um ataque à confiança construída ao longo de décadas entre os dois países. “Isso obriga o Brasil a buscar novos parceiros no mercado mundial, abandonando uma parceria histórica com os EUA”, diz o texto.

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