Estudo inédito na América Latina alerta para riscos no desenvolvimento fetal e reforça urgência de políticas públicas contra contaminação plástica
Pela primeira vez, investigadores detetaram microplásticos em placentas e cordões umbilicais de grávidas brasileiras. O estudo, conduzido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em parceria com a University of Hawai’i at Manoa, foi divulgado esta sexta-feira (25) pela Agência Bori e é o primeiro a identificar este tipo de contaminação em humanos no Brasil e em toda a América Latina.
A investigação envolveu dez grávidas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes e no Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira, em Maceió. Os tecidos recolhidos foram submetidos a digestão com uma solução de hidróxido de potássio durante sete dias, filtrados e posteriormente analisados por espectroscopia Micro-Raman — uma técnica de elevada precisão usada para identificar a composição química de micropartículas.
Partículas atravessam barreira placentária e chegam ao feto
Um dos dados mais preocupantes revelados pelo estudo foi a presença de uma maior quantidade de microplásticos nos cordões umbilicais em comparação com as placentas em oito das dez amostras analisadas. Este facto indica que as partículas conseguem atravessar a barreira placentária e chegar até ao feto, levantando preocupações quanto aos seus potenciais efeitos no desenvolvimento gestacional e na saúde futura da criança.
Possíveis fontes da contaminação
A poluição marinha surge como uma provável origem desta contaminação. A população da região tem o hábito de consumir marisco e outros frutos do mar, que podem conter partículas plásticas. Estudos anteriores indicam que 75% do lixo recolhido na orla marítima de Maceió é composto por plásticos, principalmente sacos e embalagens de alimentos ultraprocessados. A falta de acesso a água canalizada também leva muitos residentes a consumir água engarrafada, e o transporte destes recipientes sob radiação solar intensa pode acelerar a libertação de microplásticos.
Rumo a novas investigações e políticas públicas
Os investigadores alertam para a necessidade urgente de compreender melhor os efeitos dos microplásticos na gravidez e no desenvolvimento infantil. Reforçam ainda a importância de medidas como o reforço na gestão de resíduos, a regulação do uso de plásticos descartáveis, o controlo da presença de microplásticos na água e nos alimentos, a promoção de tecnologias de filtragem e o incentivo à substituição do plástico convencional por alternativas mais seguras.
Desde 2023, a equipa tem-se dedicado ao estudo dos impactos dos microplásticos na saúde humana e prevê lançar, até 2027, um estudo epidemiológico mais abrangente.
Vale lembrar que a presença de microplásticos no corpo humano tem sido cada vez mais documentada, com estudos a detetarem estas partículas no sangue, fezes, cérebro, fígado, pulmões, leite materno e até nos testículos — sinal claro de que a crise da poluição plástica já chegou ao nosso organismo.