A publicação de um alegado cartoon representando o profeta Maomé provocou protestos violentos e detenções em Istambul, na noite de segunda-feira. A polícia turca recorreu a balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão revoltada com a ilustração, divulgada pela revista satírica Leman.
Apesar de os responsáveis da publicação negarem que o desenho represente Maomé, o procurador-geral de Istambul ordenou a detenção de quatro funcionários da revista, acusando-os de “insultar abertamente os valores religiosos”.
Entre os detidos está o autor da ilustração, identificado pelas iniciais D.P. “A pessoa que fez este desenho repugnante foi detida”, declarou o ministro do Interior, Ali Yerlikaya. “Todos os envolvidos terão de responder pelos seus atos perante a Justiça.”
O desenho, cuja cópia a preto e branco circula nas redes sociais, mostra duas figuras a apertar a mão no céu, sobre uma cidade bombardeada. Uma delas apresenta-se como “Mohamed” e a outra como “Musa” (Moisés), trocando a saudação islâmica: “Salam aleikum” / “Aleikum salam”.
Através da rede social X (antigo Twitter), a revista esclareceu que “o objetivo do cartoonista era mostrar a dignidade do povo muçulmano oprimido, representando um civil morto pelos ataques de Israel. Nunca houve qualquer intenção de desrespeitar os valores religiosos”.
Apesar disso, o Ministério Público de Istambul abriu uma investigação e emitiu mandados de detenção contra os alegados responsáveis. De acordo com a imprensa local, além do cartoonista, estão visados dois redatores-chefes e o diretor de redação.
Na mesma noite, dezenas de manifestantes atacaram um bar frequentado por funcionários da revista, no centro de Istambul. O protesto degenerou em confrontos com a polícia.
Fundada em 1991, a Leman é uma das publicações satíricas mais conhecidas da Turquia e tem sido alvo de críticas por parte dos setores conservadores, sobretudo desde que manifestou apoio à revista francesa Charlie Hebdo após o atentado jihadista de 2015 em Paris.