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Dez anos de luto: Nick Cave vê Deus até na dor da perda

Nick Cave voltou a homenagear Arthur, seu filho tragicamente falecido em 14 de julho de 2015, aos 15 anos. A reflexão foi partilhada no site “The Red Hand Files”, plataforma que o músico australiano utiliza para se comunicar com os fãs. Dez anos após o acontecimento, Cave revisita o luto com lucidez e sensibilidade:
“A dor permanece, mas descobri que evolui com o tempo”, escreveu. “O luto desabrocha com a idade; deixa de ser uma afronta pessoal ou uma traição cósmica e se transforma em algo poético.”

Com palavras que revelam uma serenidade conquistada com o tempo, Nick descreveu a tristeza como “mais rica, mais profunda, mais texturizada. Mais interessante, mais criativa, mais amável”.

Ao reconhecer que está inserido numa história universal, confessou ter compreendido que “todos nós morremos” — e que a dor, por mais singular que pareça, é parte da experiência coletiva humana. Junto à sua esposa, Susie Cave, ele encontrou novos significados para o trauma:
“Descobrimos que o mundo não é indiferente ou cruel, mas precioso e encantador.”

O músico também compartilhou sua visão espiritual:
“O trauma inicial da morte do Arthur foi a cifra através da qual Deus falou… Entendi que Deus é uma forma de percepção — está em todas as coisas, até nas mais maléficas, até no nosso desespero.”

Antes de publicar o texto, Nick mostrou-o a Susie, que concordou com o tom sereno da reflexão. Segundo ela, Arthur ainda a visita semanalmente, sempre com a mesma idade. Eles não conversam. “Ele apenas se senta com ela. Às vezes ela aperta-lhe os sapatos, penteia-o, ou o abraça no colo.”
Nick conclui com uma frase comovente:

“Não sei o que aprendi mais, a não ser que ainda aqui estamos, uma década depois, a viver com o coração radiante do trauma — o lugar onde todos os pensamentos e sonhos convergem, onde toda a esperança e tristeza residem.”