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Franceses preparam “greve ao cartão” contra austeridade do Governo Bayrou

Está há menos de um ano no cargo, mas o primeiro-ministro francês, François Bayrou, já enfrenta o primeiro grande teste social ao seu Governo. A partir de 10 de setembro, vários coletivos convocaram um protesto inédito: uma “greve de pagamentos com cartão”, que se prolongará por tempo indeterminado.

O movimento, nascido nas redes sociais, apela aos franceses para deixarem de usar cartões bancários, retirarem o dinheiro dos grandes bancos — acusados de serem “cúmplices da especulação e da destruição social” — e recusarem o consumo que “alimenta o sistema”, como combustíveis, fast-fashion ou produtos de grandes cadeias de distribuição. O objetivo é simples: “atingir onde dói, na carteira do sistema”.

A contestação surge em resposta à proposta de Orçamento de Estado para 2026, apresentada a 15 de julho, que prevê cortes de 44 mil milhões de euros, incluindo a suspensão de dois feriados e reduções na saúde, nas pensões e no emprego público. A medida gerou oposição transversal entre partidos e sindicatos.

Inspirados pelos “coletes amarelos” de 2018, os organizadores apelam a ações radicais: além de boicotar os pagamentos eletrónicos, pedem que os cidadãos abrandem a produção (“tirar férias, pedir licença médica, suspender simbolicamente impostos ou bilhetes de transporte”) e, em contrapartida, apoiem cadeias de abastecimento locais.

“Sem nós, eles não são nada”; “um lockdown total e ilimitado”; “boicote, desobediência e solidariedade cívica” — são algumas das palavras de ordem que circulam online. O sindicato Solidaires já confirmou a adesão, denunciando “um orçamento injusto que penaliza os mais vulneráveis”. A CGT também se juntou, embora alerte para o risco de infiltrações da extrema-direita.

O impacto económico, no entanto, pode ser mais simbólico do que real. De acordo com o Banco de França, em 2023 os franceses gastaram 806 mil milhões de euros com cartões bancários, cerca de 67,2 mil milhões por mês. Estimativas do Le Figaro calculam que, se 10 milhões de pessoas deixassem de usar cartão durante um mês, os gastos “desviados” rondariam 12,3 mil milhões de euros.

As comissões cobradas às transações — em média 0,5% — representam entre dois e quatro mil milhões de euros por ano para o setor, valor considerado limitado pelos especialistas. “Os bancos não vivem disso, até porque os pagamentos e a sua segurança lhes custam caro”, afirmou Michel Khazzaka, fundador da consultora Valuechain, ao diário francês.

Redação