Uma investigação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) identificou, pela primeira vez em território nacional, várias estirpes da bactéria Xylella fastidiosa, agente patogénico com elevado potencial destrutivo para a agricultura. A descoberta levanta alertas sobre o risco para culturas como a vinha e o amendoal, e reforça a necessidade de vigilância constante.
Associada à doença de Pierce — que afeta gravemente vinhas na Califórnia — a estirpe identificada em Portugal pertence ao tipo genético ST1, considerado particularmente agressivo. “Este é um contributo científico crucial para compreender o risco real da presença da bactéria em Portugal”, destaca Joana Costa, coordenadora do projeto XylOut e investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) e do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da FCTUC.
As estirpes foram isoladas na região da Cova da Beira, uma das principais zonas fruteiras do país. A análise genómica sugere que a introdução da bactéria em Portugal teve origem numa única entrada, geneticamente associada à Califórnia. Foram detetadas em plantas tanto cultivadas como silvestres, o que levanta preocupações adicionais: a vegetação espontânea pode funcionar como reservatório da bactéria e dificultar o seu controlo.
Apesar da identificação apontar para uma única introdução, a data exata da chegada da bactéria ainda é incerta. “O estudo aponta para um ‘hiato temporal’ entre 3 e 23 anos, ou seja, a bactéria poderá estar presente em Portugal há muito mais tempo do que se imaginava. Já estamos a preparar uma nova campanha de amostragem, com alargamento das áreas estudadas”, acrescenta a equipa de investigação.
A Xylella fastidiosa é classificada pela Comissão Europeia como praga de quarentena prioritária, com impactos económicos superiores a 5,5 mil milhões de euros por ano na União Europeia. Desde a sua primeira deteção em Apúlia, Itália (2013), a bactéria já foi identificada em quase duas dezenas de zonas demarcadas em Portugal, sobretudo nas regiões Norte e Centro.