BTG, BGC e Tullett intermediaram contratos de futuros de dólar no valor de R$ 6,6 mil milhões numa manhã, pouco antes do anúncio de novas tarifas norte-americanas sobre o Brasil. O Supremo Tribunal Federal investiga possíveis indícios de uso de informação privilegiada.
Na manhã de 9 de Julho, o mercado de futuros de dólar brasileiro registou um movimento fora do habitual. Entre as 11h30 e as 12h45, apenas 75 minutos, nove grandes ordens somaram mais de R$ 6,6 mil milhões — quase 10% do volume total do dia. A maior operação foi às 11h38, quando o BTG Pactual intermediou quase 10 mil contratos, equivalentes a R$ 2,7 mil milhões, com base na cotação de abertura do dia, R$ 5,44.
As operações ocorreram pouco antes do chamado «tarifaço» anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros, o que levantou suspeitas de que alguém pudesse ter conhecimento prévio da decisão. O Supremo Tribunal Federal abriu investigação para apurar quem beneficiou com as movimentações.
Um contrato futuro de dólar é um acordo para comprar ou vender a moeda norte-americana a um preço previamente definido, numa data futura, usado tanto como protecção cambial como para especulação. Normalmente, as negociações são modestas, entre 5 e 20 contratos. Por isso, a série de ordens gigantescas — superiores a 3.900 contratos cada, feitas por BGC Liquidez e Tullett Prebon — chamou a atenção do mercado.
“Mil contratos já são invulgares. Acima de 4 mil é muito raro. Uma sequência assim só costuma ser feita por fundos, bancos ou grandes corretoras”, explicou a analista Deborah Magagna.
A AGU (Advocacia-Geral da União) sustenta que as apostas, em pleno dia de baixa liquidez, tiveram impacto imediato e reforçam a suspeita de que alguém soubesse das tarifas antes do anúncio oficial.
Outras operações de grande porte foram registadas ao longo do dia, elevando os picos de volume para R$ 9,9 mil milhões — cerca de 14% dos negócios de um dia que totalizou R$ 70 mil milhões. Entre os maiores negócios do dia destacaram-se:
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11h38 – BTG Pactual: quase 10 mil contratos, R$ 2,7 mil milhões
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14h07 – BGC Liquidez: 4.500 contratos, R$ 1,23 mil milhões
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12h19 – Renascença: 4.000 contratos, R$ 1,09 mil milhões
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12h45 – Tullett Prebon: 3.965 contratos, R$ 1,08 mil milhões
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18h12 – XP Investimentos: 3.000 contratos, R$ 823 milhões
Embora volumes elevados por si só não configurem irregularidade, o contexto levanta dúvidas. “Corretoras que atendem grandes clientes movimentam valores expressivos com frequência. Mas, neste caso, há uma sequência concentrada, com os mesmos participantes em ambos os lados, pouco antes de um anúncio relevante. Isso justifica um escrutínio”, afirmou a economista.
A investigação do STF pretende esclarecer se as operações foram apenas apostas arriscadas ou se houve utilização de informação privilegiada — prática conhecida como insider trading.
Redação