Uma equipa do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), de Coimbra, adaptou para português europeu a Game Addiction Scale-7 (GAS-7), uma ferramenta internacional criada pelo investigador holandês Jeroen S. Lemmens para avaliar sinais de dependência de videojogos. A validação permitirá aos profissionais de saúde mental em Portugal detetar comportamentos problemáticos entre adolescentes e jovens adultos.
A escala, que avalia sete dimensões de alerta — saliência, tolerância, alteração de humor, recaída, abstinência, conflito e problemas relacionados com o jogo — não serve como diagnóstico clínico, mas como um instrumento complementar que pode sinalizar a necessidade de acompanhamento especializado.
“Esta escala não faz diagnóstico, mas é um apoio valioso para decisões clínicas e ações preventivas”, explicou Ilda Massano Cardoso, professora e coordenadora do projeto.
Segundo a investigadora, esta ferramenta reveste-se de importância estratégica na saúde pública, sobretudo porque Portugal ainda não dispõe de dados sólidos sobre a prevalência da adição aos videojogos. O jogo compulsivo está muitas vezes associado ao isolamento social, sintomas de abstinência, perda de interesse por outras atividades e dificuldade em controlar o tempo passado a jogar.
As perguntas são objetivas e abordam comportamentos como pensar constantemente em videojogos, negligenciar tarefas escolares ou profissionais, ou substituir o convívio social pelo tempo de jogo.
“O maior sinal de alarme é quando o utilizador se desliga progressivamente da realidade, colocando o jogo no centro da sua vida”, alerta Massano Cardoso.
O estudo de validação da GAS-7 em território nacional revelou ainda maior prevalência de comportamentos aditivos no género masculino, seguindo a tendência registada noutros países. Os resultados deram origem a um artigo publicado na revista European Addiction Research.
A equipa do ISMT defende que o problema justifica medidas preventivas de saúde pública: desde programas educativos em escolas, passando pela formação de profissionais de saúde e educação, até ações de sensibilização para famílias e cuidadores.
“Se não conseguimos medir um problema, também não o conseguimos acompanhar nem tratar. A GAS-7-PT dá-nos finalmente esse ponto de partida em Portugal”, conclui a investigadora.